in J.U.P.
O Triunfo dos Porcos
- Revisitando a administração Bush
O Às de Espadas foi capturado. Saddam Hussein, inimigo número um ( ou número dois) da mais poderosa nação mundial caiu em desgraça. O grande ditador foi capturado no fundo de um poço, e as imagens de um indivíduo gasto e maltratado correram mundo. Qual cena de um filme, o porta-voz norte-americano anunciava: “apanhámo-lo”. Ao fim do terceiro “take” lá ficou em película, pronto para ser utilizado em “ Rambo 4: a queda de Bin Ladden” , ou outro qualquer épico Norte-Americano com a banda sonora dos Aerosmith.
A administração Bush usa com mestria o orgulho nacional na manipulação de vontades. Os Norte-Americanos têm o direito a amar o seu país, tal como os Portugueses, os Israelitas e os Palestinianos (ou talvez não). Não é justo porém abusar dos sentimentos fragilizados de uma nação, cansada de ataque(s) terrorista(s). É aproveitado esse medo generalizado para justificar todos os actos; se falha a luz será Saddam o culpado? Ou Osama Bin Ladden? O terror psicológico já não é provocado pela Al-Quaeda, mas por suspeitas mais virtuais do que fundadas. É uma forma de repressão muito eficaz, e já largamente utilizada na História Mundial. Utilizar um termo falacioso como “eixo do mal” não é novidade .Ainda nos Estados-Unidos , o Senador Mc Carthy perseguia os inimigos comunistas; no Portugal de Pombal, os jesuítas eram os culpados ; na fábula política de George Orwell, “O triunfo dos porcos”, o culpado era Snowball, o porco idealista. Todos eles tinham os seus fantasmas. Mas esse clima não pode servir para justificar actos como a violação da presunção de inocência. Paradoxalmente, os inimigos de Bush são presumivelmente culpados: se existem razões para pensar que talvez (provavelmente, com sorte, eventualmente, e.t.c.) Bin Ladden estará no Iraque, então ataca-se o Iraque. Podia-se correr toda a Arábia neste jogo. Vinte anos atrás provavelmente Bin Ladden encontrar-se-ia na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou talvez Cuba...
Abrem-se precedentes perigosos. Talvez agora a Índia possa atacar o Paquistão porque eles têm o atrevimento de... olhar de soslaio. Atacar por antecipação é o novo jogo; Spielberg já tinha feito um filme destes (minority report) mas Tom Cruise tem mais charme que o presidente Norte-Americano .
Conseguirá Bush tapar os olhos ao seu povo por mais tempo? O Presidente serve perú de plástico aos seus soldados; confunde deflação com desinflação e gera confusão nos mercados internacionais; assiste a economistas americanos, liderados pelo Nobel Keneth Arrow (num total de 450) a chumbarem o seu pacote fiscal ;o défice governamental deverá atingir os 5% em 2004, temendo-se que este crescimento comprometa o sistema de segurança social do país; a política internacional Americana fomenta desequilíbrios internos e externos; os países desenvolvidos vêem-se obrigados a recorrer ás suas reservas energéticas diariamente. Um movimento descuidado na Casa Branca e lá longe, onde o deserto é rei, levanta-se uma tempestade de areia. George W. Bush e a sua administração estão nos antípodas do Rei Salomão: o ouro herdado do anterior governante torna-se, ao simples toque, em latão velho e enferrujado.
Estes males e erros não podem ser escondidos com caças a homens imaginários como o é Bin Ladden, o pseudo-culpado da situação dos E.U.A., fruto da imaginação de um menino que um dia só quis ser presidente como o seu pai e ainda criança ouvia histórias do déspota que governava a terra de Ali-Bábá, coberta de areia, mas que guardava muitos tesouros no sub-solo...
Quem leu “o Triunfo dos Porcos” sabe que o título não é nada ofensivo. Afinal, os porcos eram os animais mais inteligentes da quinta. A sua supremacia, mais do que anunciada, era inevitável...
dezembro de 2003
sábado, maio 21, 2005
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