quarta-feira, novembro 30, 2005

Do aniversário da morte:

Bernardo Soares, sobre ele próprio:

"...e eu, que odeio a vida com timidez, temo a morte com fascinação."


Ernesto, sobre Bernardo Soares:

"Nunca gostei de vírgulas. Sempre preferi pontos.
E parágrafos:
Dão tempo para pensar."

sábado, novembro 26, 2005

George Best: a queda de um anjo

Dia 24 de Novembro, o ídolo britânico concedeu umas últimas palavras ao IP, onde resumiu brevemente a sua bela carreira. “Eu era o maior”, disse o ex-jogador do Manchester United: “facturava de todas as formas: de cabeça, de pé, de lado, à noite, de dia, onde quer que fosse”. Curiosamente, Best não lidava bem com a pressão “gosto da minha cerveja bem morna e quente” e logo “não marcava penáltis. Penáltis só bebê-los”. Mas isso não o impediu de festejar muitas vitórias com a camisola dos “Red Devils”: “sim sim, festejava muito; Era um jovem muito festivo”. Quando recordado de Eusébio, Best respondeu “Hã?”, referindo-se claramente ao poder de arranque surpreendente demonstrado pelo Pantera Negra. O jogador considerou ainda bem entregue a camisola sete do United, envergada pela jovem estrela Cristiano Ronaldo, que “também gosta de dar festarola aos adeptos”. O “quinto Beatle”, como era carinhosamente chamado pelos amigos do “pub” levantou hoje o copo pela última vez.

Tribunais espelham realidade Portuguesa

Numa tentativa de melhorar a representatividade do país, 97 tribunais foram classificados de deficientes ou de produtividade baixa. A respeito deste assunto, Souto Moura, Procurador-Geral da República, congratulou-se pelo trabalho feito: “As instituições portuguesas têm de reflectir o país em que se inserem; a nojice do nosso sistema judicial é um tributo à democracia! Seremos medíocres até que a Pátria nos indique o contrário!”. Souto Moura espalhou também elogios ao sistema de saúde nacional e à Administração Pública em geral, por “serem os verdadeiros percursores deste movimento democrático e justo”. Um juiz que passava, coçando os genitais escondidos pela toga, pediu mortalhas ao “mano soutinho”, e avisou que ia lá fora, “fazer esse” enquanto o júri se reunia: “não tenho pachorra para esses cotas”, disse o juiz. De liamba em riste, Souto Moura afastava-se, gritando “É a jurisprudência da nação! Nós somos o que o povo for! Alguém tem algo que se trinque, por aí, manos?”

Bloco de Esquerda anuncia vigílias nocturnas do espaço aéreo

Ontem à noite, por todo o país, militantes do Bloco de Esquerda passaram a pente fino os céus portugueses, à cata de aviões da C.I.A. “É fácil encontrá-los, basta sentir o cheiro sujo do capitalismo”, disse Francisco Louçã.
Louçã passou a noite acampado junto ao Aeroporto da Portela, reunido com os seus jovens peões, tocando djambé em acção de protesto contra a violação dos direitos humanos cometidos pelo governo dos Estados Unidos da “plutocracia”, como verbalizou o líder do partido. “Dançamos nus à vista da nossa irmã Lua, uivando contra o sistema”.
Na mesma noite, o núcleo bloquista do Porto comandado por João Teixeira Lopes juntou-se na Serra da Agrela, localidade situada a 10 quilómetros do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, com as prostitutas, chulos e bêbados desdentados que povoam aquela localização, “lendo Marx, bebendo tinto e fumando o corpo de Marley; Esta serra será, por hoje, o monte Zion, símbolo da liberdade individual, e némesis da Babilónia americana”, disse Teixeira Lopes, antes de por a tocar um vinil dos “Grateful Dead” e de dar iniciada a manifestação com o já tradicional jogo do gelo.
Por todo o país se avistam jovens dançando folk e decorando à ultima hora as letras de diversas canções de Fausto e José Mário Branco, gritando “O sistema é um problema” e “Estaline é inocente”.
O sucesso da operação levou os dirigentes do Bloco a considerar a criação de um festival de verão, cujo nome provisório é “Adiante”.

Chapitô aposta na formação de políticos:

O Chapitô, escola de formação de palhaços que goza de grande reputação em Portugal, iniciou hoje uma nova etapa, proporcionando uma pós-graduação em ciências políticas. O aluno que complete o curso de palhaço poderá prosseguir assim os seus estudos na área cómica, direccionando-se para um mercado “com mais oportunidades do ponto de vista profissional”, como referiu o Sr. Cardinalli, palhaço que goza de elevada longevidade nesse ramo tão difícil: “Eu próprio estou tentado a revitalizar a minha veia ridícula, ingressando nesse meio recheado de grandes palhaços (…) Estou a pensar em seguir a via autárquica, que é mais prática mas igualmente divertida; a administração central é sedutora, mas é atingível somente por grandes arlequins e sátiros; é um nível de estupidez inalcançável para a minha pessoa”.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Alegres contradições:

In Público, 24/11/05

Público - "(...)Continua a pensar que a sua candidatura faz sentido, que vai mobilizar o eleitorado de esquerda e vencer as eleições numa eventual segunda volta?

Manuel Alegre- "Não se trata só do eleitorado de esquerda. Uma candidatura presidencial dirige-se a todo o eleitorado e os dados mostram que havia espaço e necessidade de uma candidatura como a minha. Claro que sou um homem de esquerda e o meu objectivo é mobilizar a esquerda, mas dirijo-me a todo o eleitorado que se reconhece nos valores da liberdade e da democracia."

Público- "Mas considera que existe algum candidato que não corresponda a esses valores?"

M.A.- "Não. Isso está ultrapassado. São fantasmas e papões que devemos enterrar. Há diferenças na leitura do funcionamento do sistema político, da situação do país, da situação de Portugal no mundo. Há concepções diferentes sobre o que deve ser o papel do Presidente da República. Mas todos os candidatos respeitam os valores democráticos que estão consagrados na Constituição."

quarta-feira, novembro 23, 2005

Furtos diurnos

Carpe diem.

"Confias no incerto amanhã? Entregas
às sombras do acaso a resposta inadiável?
Aceitas que a diurna inquietação da alma
substitua o riso claro de um corpo
que te exige o prazer? Fogem-te, por entre os dedos,
os instantes; e nos lábios dessa que amaste
morre um fim de frase, deixando a dúvida
definitiva. Um nome inútil persegue a tua memória,
para que o roubes ao sono dos sentidos. Porém,
nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias;
e abraças a própria figura do vazio. Então,
por que esperas para sair ao encontro da vida,
do sopro quente da primavera, das margens
visíveis do humano? "Não", dizes, "nada me obrigará
à renúncia de mim próprio --- nem esse olhar
que me oferece o leito profundo da sua imagem!"
Louco, ignora que o destino, por vezes,
se confunde com a brevidade do verso."

Nuno Júdice

terça-feira, novembro 22, 2005

Furtos nocturnos


"tenho sido sempre um sonhador irónico, infiel às promessas interiores. Gozei sempre, como outro e estrangeiro, as derrotas dos meus devaneios, assistente casual ao que pensei ser. Nunca dei crença àquilo em que acreditei. Enchi as mãos de areia, chamei-lhe ouro, e abri as mãos dela toda, escorrente. A frase fora a única verdade. Com a frase dita estava tudo feito; o mais era a areia que sempre fora."

- Bernardo Soares, guardador de livros.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Da aventura inaudita a que levou a cabo Dom Ernesto del’Chantre:

“Desta missiva vos comunico que, arrabiado p’los feitos inóspitos que se têm praticado além Doiro, nas terras da ignóbil mouraria, Eu, Dom Ernesto del’Chantre, irei segundo altos desígnios de Deus ressuscitar nesta safada idade do ferro a antiga idade de oiro. Eu sou aquele a quem estão reservadas, entre perigos sem conta, façanhas de truz e as acções mais valorosas e inauditas. Meterei eu no chinelo os Platires, os Tablantes, Olivantes e Tirantes e restante moiraria que reza ao senhor errado. Todas estas coisas juntas e cada uma de per si eram bastantes para difundir o pânico e o assombro no peito do próprio Marte. Assim será justo, então, que cavalgue junto dos meus fiéis escudeiros para impor a ordem em terras onde resiste ainda o invasor: com o menor dos agrados mas com a confiança de quem respira o temor de Sol a Sol e de Lua a Lua, aviso-vos que irei torcer caminho, ainda que passe dias à sede, até à Capital do Império D’El Rei.Descerei as escarpas infernais, ainda que gigantes se atravessem no meu caminho, para ressuscitar os paladinos da Távola Redonda, os doze pares de França e os nove da fama, obrando tais prodígios, proezas e assombros de valor que hão-de emanar o brilho de quanto eles realizaram de mais esplêndido. Ao sexto dia chegarei e ao sétimo repousarei do massacre que irei impor diante vós, oh ignóbeis assassinos da moral! Tremam, porque espalharei entre vós a solidão, as trevas e o murmúrio das folhas! Sem mais demoras me despeço, mas haveis sido avisados! Fujam, porque Dom Ernesto tomará Lisboa!”


Ernesto, El Justo





Tradução:
“Vou passar o fim-de-semana a Lx. Chego no sábado para partir essa merda toda. Ressaco no Domingo, como o senhor.”


Olé.

terça-feira, novembro 15, 2005

Pancada da meia noite...

......Patrocinada por uns shots de uma bebida que afirmava ter 12 anos........

O BICHO

-IRAN COSTA

Quando o vento bater no seu cabelo
Espalha-se a magia pelo o ar
Ele vai te encontrar esperando
Que o destino revela enfim
O segredo que tem pra te contar

Ha tanto tempo que eu te quero no meu lado
Nossos caminhos nao haviam ser cruzado
Meu coraçao bate mais forte que a emoçao que tem você pra mim

Oh oh oh

Aquele grito que era preso na garganta
Se transformou e a nossa vibraçao é tanta
Canta comigo pra dizer a todo o mundo que é assim nosso amor

{Refrain:}
E o Bicho {x2}
Vou te devorar
Crocodilo eu sou
E o Bicho {x2}
Vou te devorarCrocodilo eu sou

Ritmo, falta de:

Bom dia.

A periodicidade errática com que se publica este blog encontra várias justificações; A minha "vida real" é uma delas. Não obstante, o ernesto tem vindo a ser privado de contacto com a comunidade etérea da internet porque o seu modem retirou-se de serviço. Retirou-se sim: " não se conseguiu ligar ao computador remoto porque o modem está retirado ou ocupado", diz a missiva windowsiana. Não deixa de ser paradoxal a resposta do modem, como se de um humano se tratasse, desesperadamente à procura de férias. Escrevo-vos neste momento da Biblioteca Almeida Garrett. Passarei a tarde a estudar numa destas mesas.

P.S.: ando à cata de inspiração. Ajuda, por favor, para o email aí do lado

sexta-feira, novembro 11, 2005

Suicídio em Barcelona, parte III – os espectadores

Várias reacções se sucederam nas mentes da atónita assistência.
Os que abundam em sabedoria, qualidade inversamente proporcional aos anos de vida que carregam consigo, nem sequer questionaram o sucedido. “Um sonho”, pensavam; “nada me fará rejeitar a minha lógica” enquanto enfiavam na bucha uma baguettina catalã.
Os fantasistas aproveitaram para reforçar a já pouco objectiva visão que detinham da vida.
Os intérpretes decifravam a visão, à cata de analogias; o super humano, a capa doirada que esconde a ferrugem, o paradoxal sofrimento da máquina… nada os detia na crítica. Eram brilhantes, sabiam-no.





E Colombo.
Esse observou tudo da outra margem, por entre as árvores. Apontava o dedo para onde sempre apontou – era a sua única certeza. Ninguém lhe registou um comentário sequer.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Suicídio em Barcelona, take 2 : a salvação

Ernesto, absorvido que estava ao contemplar o cruel destino do robô, não mexeu uma palha para o ajudar. Poder-se-á dizer que ficou paralisado com a vontade de C3PO; dir-se-á, tão simplesmente, que se reviu nas suas palavras; outros, menos prosaicos, poderão sugerir que Ernesto se estava nas tintas. Na verdade, ele contemplava o cenário que se lhe propunha: um robô doirado jogava-se sobre a multidão, num desespero tão paradoxalmente humano. Pois.
Entretanto, supõe-se que alguns humanos reais (estirpe cada vez mais rara, composta por carne e osso) não tenham esperado que o sucedido sucedesse, e gritaram por ajuda. As suas preces foram ouvidas : do nada, ou tão simplesmente de Metropolis, apareceu outro ícon para a salvação. Super Homem correu ao salvamento e resgatou C3PO do ar que o separava do chão. E, num milagre, o ícon foi salvado por outro ícon: o imaginário superou-se a si mesmo. Num ponto no céu catalão, foi possível avistar um Homem voador, envolto em cuecas azuis e vermelhas, carregando um robô doirado, que se enferrujava em lágrimas.




E é assim, minha gente: nada é ridículo ao ponto de não poder ser mais ridículo ainda; ou, por outra, a estupidez encontra sempre uma maneira de se superar a si própria.


P.S.:Este fragmento de estupidez baseia-se em fotografias reais, tiradas no museu de cera de Barcelona, ao lado do “bosque das fadas” -a ficção rodeou a realidade.
A estupidez é por conta da casa…

segunda-feira, novembro 07, 2005

Suicídio em Barcelona, take 1 : o desespero




-Bairro Gótico, Barcelona
No topo de um qualquer edifício, desses que povoam a bela e arisca capital da Catalunha, C3PO, conhecido robô, ameacava tirar a sua própria vida. Uma multidão reuniu-se para observar a morte de um ícon; o bravo e admirado cidadão da comunidade robótica desmontar-se-ia todinho, saltando daquele edifício. Num sotaque britânico bem oleado, o sujeito questionava-se sobre o destino que lhe havia reservado a cruel e vil vida.
Ernesto, que se encontrava pelas calles catalãs trauteando uma bem engraçada melodia, registou o discurso do suicida:
"(...)Lucas não seria nada sem mim! Fui EU o ícone de uma geração! Futurista que nem o Almada, o coupé de todos os robôs! O expoente máximo da criação humana! Lucas usou-me... partilhou comigo a sua visão e eu, um inocente robô de elevada estatura mas baixíssimo nível de inteligência emocional, revi-me nos seus sonhos. Lucas disse que eu seria o seu homem-máquina, qual Chaplin em "Tempos Modernos"! O revelador da condição social da ignóbil burguesia! Seria a crítica de Lucas para com os eloquentes literados, cujo léxico é muito, mas cujas ideias são parcas e vazias, esses autómatos-cuspidores-de-chavões! Eu reflectiria os estéreis críticos de Star Wars; EU seria o isco de Lucas! As atenções concentrar-se-iam em mim, para que o filme fosse filmado com a serenidade e tranquilidade necessária... mas ninguém foi capaz de entender a profundidade e crítica social que C3PO adicionou ao filme, uma personagem satírica e incitadora à revolução; eu fui o palhaço sacrificado perante as câmaras, para que Lucas pudesse pintar os seus críticos sobre a forma de C3PO, um robô dourado e vazio, que se apoiava no seu sotaque "cockney" para revestir as suas palavras de legitimidade... E depois deste inglório sacrifício... JAR JAR BINKS, um cavalo-marinho-alienígena-com-um-defeito-na-fala?!?!Um ícon como eu próprio não pode aceitar tal tratamento! A lógica de mercado e a tentativa de abrir o filme a um público mais jovem não me coube como desculpa! Para os ícons há sempre espaço! Assim sendo, despeço-me. Desmontar-me-ei deste mundo. Adeus, caros concidadãos, e que viveis em paz sem a minha eloquência e bom trato".


To be continued...

sexta-feira, novembro 04, 2005

Estrela (de)cadente

Tendo eu 24 anos e uma adolescência inteiramente compreendida entre 1990 e 2000, essa década vazia à qual faltou certamente uma revolução, foi-me inevitável, em algum ponto perdido da minha vida, ascender aos céus e encarar Deus. Tirar-lhe as medidas. Encher a boca, escarrar-lhe na cara e cair das nuvens como uma estrela decadente.

Portanto:
Que se foda o Ian Curtis.
Que se foda o James Dean.
Que se foda o John Lennon.
Que se foda o Jim Morisson.

Tenho os meus próprios ídolos, pelos quais me sinto responsável. E este em especial não seria nada, não fosse a minha memória.



A prova é que, anos depois, o “Nevermind” faz mais sentido que nunca.
Porque resistiu a modas, estilos e ao meu próprio crescimento e maturidade.
Porque foi feito para mim, mas lançado quando eu menos esperava.


Se não fosse ele, gritar não faria sentido nenhum.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Indução

-Numa casa de banho:

Uma pilha de livros ladeava a retrete.
No topo da dórica construção, "obstipação crónica - diagnóstico e terapêutica".





Mais um post de merda.

terça-feira, novembro 01, 2005

Oh sim, oh sim.

Oh sim, oh sim, oh sim, oh sim.

Oh sim, simsim.

Finalmente!
O meu corpo ostenta as marcas do crescimento!
A maturidade revela-se no físico!
A sapiência colora-me os traços!


!!O meu primeiro cabelo branco!!!!




P.S.: Paradoxalmente, chego à conclusão que o aparecimento deste sinal de velhice apenas contribuiu para um ataque de infantilidade.