quinta-feira, dezembro 18, 2008

Expectativas.

Ontem à noite, no Passos Manuel.



O Manuel Cruz e o Jorge Coelho juntaram-se à esquina, a tocar a concertina e mais uns quantos instrumentos aparentemente improvisados. Uma estranha cacofonia, que o Jorge pautava com umas guitarradas cruas (que às vezes, mas só às vezes, roçavam o melódico) às quais o Manel (assim mesmo, "manel", à fozeiro com cabelo penteado pela nortada) adicionava umas camadas de percursão, megafones, gravadores, rádio e sons autistas. Uma total ausência de progressão ou construção nas músicas. Uma incoerência total: o Manel movimentava-se em palco arrastando-se (literalmente...) de instrumento em instrumento sem qualquer tipo de lógica. E, experimentalismo por experimentalismo, a performance bem poderia não ter ultrapassado a porta da sua sala de ensaios, que imagino estranha e ligeiramente autista.

O que é pena. Quando se anuncia uma reunião entre dois criadores deste calibre, geram-se expectativas imensas. Cheguei ao Passos Manuel com a impressão de que poderia vir a assistir a um momento histórico na música portuense. Infelizmente, assim não foi.


E termino com uma piçada intelectualóide: depois de ter visto, há uns anos, o Fred Firth e o Marc Ribot dando os seus próprios shows experimentais, comecei a perceber que há autismos de boa e de má qualidade.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Escrita de computador.

- Outro dia tentei ler um livro desse autor. Desisti da leitura na quinta página. Notava-se que ele escrevia ao computador.
- Avó, agora todos escrevem utilizando o computador.
- Pois,mas aquilo não era o autor, era o computador a falar. Era mecânico.



(Será que os mac's adicionam sofisticação e contemporaneidade aos nossos textos? Ou os desiludidos e banais PC's são o perfeito espelho do falhanço, cujas memórias exploramos no Word? )



(foto tirada daqui)

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Entrando em cena, gentilmente...

...espreita o actor, ainda na pele do personagem, por detrás da cortina. A sala parece vazia. Atreve-se a dar uns passos a mais, na direcção daquele que antes fora o seu palco. Abre os grandes olhos e sussurra baixinho:

Olá. Está alguém desse lado?