Ao longe, nada.
Nada quebrava a monotonia desértica dessa paisagem que confundi com o tempo.
Um nevoeiro cobria o horizonte, uma placenta matinal tolhava-nos os olhos impedindo o assombro face ao futuro.
O futuro: desse, só se adivinha o medo e a prorogação infinita do presente, como em espelhos que se miram.
Mas depois veio Ele.
De um ponto longínquo e luzidio, quebrando a horizontalidade do fim da esfera, cavalgando entre ventos e poeira.
Marchava só, ainda que para ele convergissem a fé, a esperança dos velhos e a certeza das crianças; marchava sempre só.
Quando dele os olhos afastei, não suportando mais aquela febril vaga, reparei em 10 outros que o seguiam. Dez que corriam atrás dele. Não almejavam alcançá-lo, sabiam dos seus poucos limites. Mas não tinham dúvidas do seu profeta.
E assim veio Ele, rompendo o nevoeiro, atravessando barreiras, trespassando o ar. Fez do seu corpo bandeira, da sua voz um hino. Fez-se ilusão Homérica, repôs Sebastião no trono e avançou, sozinho, reclamando para si o Quinto Império. Alcácer Quibir era história, e do passado se alimentam ou outros- e não Ele.
Ele desfez os Sauditas que bradavam impropérios com a mesma mestria com que alçavam a pesada espada.
O sangue de sépia dos cães infiéis entornou-se na areia.
Veio, Viu e Espetou
dois golos naqueles gajos.