sábado, março 31, 2007

Me encuentro casi ciego por haber contemplado demasiado el fulgor de Dios.
He quedado casi sordo por haber escuchado demasiado el trueno de su Palabra.
Pero he obtenido un premio: la mente sabe ahora ver más lejos, y el corazón logra percibir mejor las más suaves voces del afecto.

sábado, março 24, 2007

Révanche

Sacrifiquei uma soma enorme e diminui nalguns milhões os meus rendimentos fixos, mas uma das fantasias mais antigas da minha mocidade converteu-se em facto.
Vivi durante muitos anos em horríveis habitações, nos bairros mais populosos da cidade mais populosa, poeirenta e ruidosa do mundo.

E sonhava que um homem poderosíssimo poderia um dia divertir-se restituindo à Natureza um pedaço daquela cidade asquerosa, derrubando casas, descalçando ruas e fazendo voltar o ar limpo aonde havia corrupção, as árvores floridas aonde corriam as cloacas, o silencio aonde havia estrondo, a solidão aonde milhares de homens se amontoavam em túmulos de pedras sobrepostas.

Este pensamento orientou-me, talvez sem me aperceber, quando comecei a comprar muitas casas, num dos bairros mais populares de New York.
Mas quando verifiquei que possuía duas ou três ruas inteiras, e com excepção de alguns pedaços, o bairro todo, assaltou-me com estranho vigor a lembrança e a tentação daquele sonho.
Devagar, consegui comprar as poucas casas que não eram de minha propriedade e encontrei-me dono absoluto de vinte hectares de New York.

Os vinte hectares foram separados por um muro alto, sem janelas, cancelas nem portões – o ingresso para mim é subterrâneo – e um exército de botânicos, zoólogos e engenheiros, após três anos de trabalho, operaram o milagre.
No lugar do asqueroso bairro habitado por operários, empregados e pequenos comerciantes, encontra-se agora uma espécie de selva virgem, com longos bosques, prados e canais, onde os pássaros cantam, as arvores florescem e só se ouve, longínquo e confuso, no rumor da cidade infernal.

Só eu desfruto este pequeno paraíso terrestre reconquistado.
Nas ruas por onde todos passavam, só eu passo.
Onde os automóveis uivavam e punham mau cheiro, passeiam os plácidos ursos.
Onde o prestamista se postava á espera de uma vítima, agora o chacal alegra-se ao Sol.
Reservei-me no coração de uma cidade orgulhosa e colossal, o verdadeiro luxo, o mais caro de um homem moderno: o isolamento e o silencio.

Os de fora, que vêem os altos muros despidos, mas conseguem, do cimo dos seus edifícios circundantes, ver o que está lá dentro, exclamam: capricho de um doido!
Eu, porém tenho a impressão de ter construído para mim, no recinto de um vasto manicómio, uma pequena mas alegre cela de sabedoria.
Aldrabado apartir de Giovanni Papini, Gog 1931

sábado, março 17, 2007

Ensinar... conselhos simples



1. Se não estiver a correr mal, não tentes melhorar....
2. Se correu bem, repete....
3. Quando algo não funcionar, faz outra coisa (muda)

Ensinar...



You have to have a huge sense of humor and a small ego.
There are some people who are born to do it and some who learn to do it, and there are some people who really shouldn’t do it.

Jason Levy, director de uma escola do Bronx sobre o desafio de ensinar (e no Bronx deve dar mesmo pica :)

sábado, março 10, 2007

Love's gamble

Segundo Shakespeare, o amor é mera loucura.
Mas isso não impediu dois matemáticos do London University College, Peter Sosou e Robert Seymour, de lhe introduzir alguma racionalidade; já que o amor é um jogo e existe uma bela Teoria dos Jogos, porque não aplicá-la?

Concentremo-nos no caroço da coisa: fazer a corte, é uma condição inicial e determinante da relação amorosa, no mundo dos animais de cabelo, como no dos outros.
Fazer a corte, é normalmente uma iniciativa do macho, o que implica com frequência a oferta de presentes.
É ao macho que cabe a iniciativa, porque o preço da cópula é muito maior para a fêmea, arriscando à gravidez e a uma desgastante maternidade.
Contrariamente ao macho, a fêmea tem que ser muito selectiva na escolha. Ora, um presente, pode ser um excelente indicador sobre a qualidade e intenções do macho que se apresenta.

Mas o macho também tem que ter algum cuidado; se oferecer um presente barato a fêmea não o considerará, e se oferecer algo de muito valor, ela pode aceitar, virando-lhe as costas de seguida, sem lhe dar o que no fundo ele quer: a “queca”.

O que aqui temos é um modelo clássico de jogo simétrico, com uma sequência de escolhas e movimentos, semelhante ao xadrez.
O macho quer dar uma queca e tenta seduzir a fêmea com um presente, caro ou barato, conforme o valor que vê nela.
A fêmea decide se aceita o presente e se corresponde ou não, conforme a avaliação que faz do macho; irá abandoná-la após engravidar? … Que preço pagará pela aceitação?

Qual então a melhor estratégia para ambos?
Em primeiro lugar está a capacidade de atracção de cada um, o que dificulta ou facilita o objectivo de cada jogador.
Os matemáticos determinam, em função do número de interessados no passado, a probabilidade de atracção que estabelece os valores de partida.

A melhor estratégia também depende também daquilo que se quer, em linguagem da Teoria dos Jogos, do “lucro” que cada jogador pretende retirar no final.
Aqui, os matemáticos simplificam:
O macho fica positivo se der a famigerada “queca”, e o lucro sobe se a fêmea for atraente;
A fêmea só fica positiva se o macho não se for embora após o acto (ajudando a tratar das crias); em todos os outros resultados – macho atractivo que a abandona, macho pouco atraente que fica, macho pouco atraente que se pira – o seu lucro é negativo.
O equilíbrio (Nash equilibrium) consiste em duas estratégias diferentes (para cada) mas cujo balanço final tem a característica de nenhum jogador ter nada a ganhar alterando a sua estratégia específica.
O equilíbrio estratégico é afectado pelo factor “atractividade” (a natureza favorece os atraentes) mas outro parâmetro ganha relevo para os machos (atraentes ou não): dar um presente que custe caro e a fêmea disso se aperceba, mas que seja de pouco valor material para ela.
Assim o macho mostra que tem poder económico e que valoriza a fêmea.
A fêmea pelo seu lado só aceita se estiver realmente interessada.
O macho encontra um balanço entre o custo e o risco de se meter nas mãos de uma interesseira.
Em termos humanos um tal presente pode ser, por exemplo, uma viagem a Veneza, ou outra coisa qualquer, cara mas imaterial.
Algo que custe ao macho, mas seja pouco interessante para a fêmea se não quiser a companhia.
Portanto… terão encontrado a via do sucesso?
Infelizmente, a realidade é um bocadinho mais complicada.
A cópula humana não leva necessariamente à gravidez, e os papéis dos géneros podem até inverter-se.
Além disso, cada pessoa valoriza diferentemente os mesmos presentes: enquanto uma mulher pode passar-se positivamente com a exibição (ou oferta, pois então) de um Mercedes, outra pelo contrário pode achá-lo pretensioso e até repugnante.
Muita gente gosta de curtir uma noite de luxo ou até uma viagem, mesmo sem apreciar extraordinariamente a companhia.
Pior ainda, os humanos não jogam limpo, há quem escolha um parceiro para tratar das crias e outro para os encontros românticos, aproveitando assim o melhor dos dois mundos.
A Teoria dos Jogos pode dar-nos maior objectividade sobre a evolução do cortejamento entre macho e fêmea, mas é limitada. Para melhor compreensão talvez seja preciso ir buscar as equações de Lorenz e a Teoria do Caos :)
(copiado aqui)

sexta-feira, março 02, 2007

Mainada!


Wake up.

Um "beep" às oito horas da manhã. Bati-lhe, fez-se um silêncio de cinco minutos.

Acordei só às nove. Sentado na cadeira dos últimos dias. Debruçado à frente de um ecrãn, esticando o dedo para ligar a máquina.



"beep".