Segundo Shakespeare, o amor é mera loucura.
Mas isso não impediu dois matemáticos do London University College,
Peter Sosou e
Robert Seymour, de lhe introduzir alguma racionalidade; já que o amor é um jogo e existe uma bela
Teoria dos Jogos, porque não aplicá-la?
Concentremo-nos no caroço da coisa: fazer a corte, é uma condição inicial e determinante da relação amorosa, no mundo dos animais de cabelo, como no dos outros.
Fazer a corte, é normalmente uma iniciativa do macho, o que implica com frequência a oferta de presentes.
É ao macho que cabe a iniciativa, porque o preço da cópula é muito maior para a fêmea, arriscando à gravidez e a uma desgastante maternidade.
Contrariamente ao macho, a fêmea tem que ser muito selectiva na escolha. Ora, um presente, pode ser um excelente indicador sobre a qualidade e intenções do macho que se apresenta.
Mas o macho também tem que ter algum cuidado; se oferecer um presente barato a fêmea não o considerará, e se oferecer algo de muito valor, ela pode aceitar, virando-lhe as costas de seguida, sem lhe dar o que no fundo ele quer: a “queca”.
O que aqui temos é um modelo clássico de jogo simétrico, com uma sequência de escolhas e movimentos, semelhante ao xadrez.
O macho quer dar uma queca e tenta seduzir a fêmea com um presente, caro ou barato, conforme o valor que vê nela.
A fêmea decide se aceita o presente e se corresponde ou não, conforme a avaliação que faz do macho; irá abandoná-la após engravidar? … Que preço pagará pela aceitação?
Qual então a melhor estratégia para ambos?
Em primeiro lugar está a capacidade de atracção de cada um, o que dificulta ou facilita o objectivo de cada jogador.
Os matemáticos determinam, em função do número de interessados no passado, a probabilidade de atracção que estabelece os valores de partida.
A melhor estratégia também depende também daquilo que se quer, em linguagem da Teoria dos Jogos, do “lucro” que cada jogador pretende retirar no final.
Aqui, os matemáticos simplificam:
O macho fica positivo se der a famigerada “queca”, e o lucro sobe se a fêmea for atraente;
A fêmea só fica positiva se o macho não se for embora após o acto (ajudando a tratar das crias); em todos os outros resultados – macho atractivo que a abandona, macho pouco atraente que fica, macho pouco atraente que se pira – o seu lucro é negativo.
O equilíbrio (
Nash equilibrium) consiste em duas estratégias diferentes (para cada) mas cujo balanço final tem a característica de nenhum jogador ter nada a ganhar alterando a sua estratégia específica.
O equilíbrio estratégico é afectado pelo factor “atractividade” (a natureza favorece os atraentes) mas outro parâmetro ganha relevo para os machos (atraentes ou não):
dar um presente que custe caro e a fêmea disso se aperceba, mas que seja de pouco valor material para ela. Assim o macho mostra que tem poder económico e que valoriza a fêmea.
A fêmea pelo seu lado só aceita se estiver realmente interessada.
O macho encontra um balanço entre o custo e o risco de se meter nas mãos de uma interesseira.
Em termos humanos um tal presente pode ser, por exemplo, uma viagem a Veneza, ou outra coisa qualquer, cara mas imaterial.
Algo que custe ao macho, mas seja pouco interessante para a fêmea se não quiser a companhia.
Portanto… terão encontrado a via do sucesso?
Infelizmente, a realidade é um bocadinho mais complicada.
A cópula humana não leva necessariamente à gravidez, e os papéis dos géneros podem até inverter-se.
Além disso, cada pessoa valoriza diferentemente os mesmos presentes: enquanto uma mulher pode passar-se positivamente com a exibição (ou oferta, pois então) de um Mercedes, outra pelo contrário pode achá-lo pretensioso e até repugnante.
Muita gente gosta de curtir uma noite de luxo ou até uma viagem, mesmo sem apreciar extraordinariamente a companhia.
Pior ainda, os humanos não jogam limpo, há quem escolha um parceiro para tratar das crias e outro para os encontros românticos, aproveitando assim o melhor dos dois mundos.
A
Teoria dos Jogos pode dar-nos maior objectividade sobre a evolução do cortejamento entre macho e fêmea, mas é limitada. Para melhor compreensão talvez seja preciso ir buscar as equações de Lorenz e a
Teoria do Caos :)