quinta-feira, agosto 11, 2005

Como o Inimigo comeu o Público

Naturalmente, os medíocres aspiram a ser bons; os bons aspiram a ser excelentes; os excelentes, compram uma armação em massa para repousarem as graduações; esses, aspiram a ser cronistas do Público.

Ok, o mundo não funciona bem assim. Alguns mundos, talvez. Mas a verdade é que os MST's e os VPV's assinam textos entusiasmantes, que excitam os leitores. Provocam reacções, favoráveis ou não, com o uso da sempre-amada-e-fácil-de-utilizar chalaça inteligente. Nada contra esse interessante recurso de estilo (para quando a sua inclusão nos manuais de Português?); o Ernesto (na terceira pessoa, como o Jardel) sempre foi apreciador desse tipo de brincadeira irónica.

Mas a ironia é O recurso mais perigoso da escrita ( e da vida). É àcido, é corrosivo, e atira sem discriminação. No seu uso, nunca se levanta mais do que a ponta do véu, de forma a estimular diversas interpretações, e assim permitindo ao escritor o refúgio na subjectividade. Para mim, é o grande princípio do humor, e contagia como nenhum outro; Não só contagia os leitores, como os próprios colegas de escrita.

Com a grande explosão do humor em Portugal (materializada na stand up comedy, mas preparada durante muitos anos por esses trend-setters que são os cronistas cómicos), a ironia anda aí como nunca, pairando pelos textos dessa nova geração de chalaçistas incríveis; os do restelo, aqueles que ficam a ver a partida das naves, dirão que o Solnado é que era. Mas nunca se assistiu a um movimento tão forte; forte o suficiente para tomar conta de um jornal como o Público.

O Inimigo Público tem óptimos escritores, que cobiçam eles próprios a posição de cronista; os textos são engraçados e inteligentes; a produção é tão intensa que se criou a versão light do produto, de forma a incluí-lo mais vezes no jornal. É de tal forma forte, que a chalaça inteligente foi tornada a opção editorial do jornal inteiro. É pá, e tal, os gajos são mesmo bons, têm mesmo piada. Aquele jornal... ha!

Senhores J's do P. : Um jornal não é um blog. O Público não é o Inimigo, apesar do Inimigo ser do Público. Não confinem a vossa audiência a uma minoria pseudo-culta, que acha piada aos vossos comentários satíricos. O "gag jornalístico" é porreiro, mas para isso é que existem os blogs, vá. Aqui é que se podem mandar bitaites. estamos entendidos? hein?
Ou então, incluam no rodapé do vosso folheto que o "Público é um jornal satírico, sendo o seu conteúdo puramente ficcional".


Mas Portugal nunca foi um país tão engraçado.

5 comentários:

Poor disse...

não sendo leitora assídua do Publico, volta e meia passo os olhos pelo inimigo público!confesso que só raramente me sacam um sorriso ou uma gargalhada!Não devo ter calibre intelectual sequer para perceber ou achar graça a algumas piadas!Já a tua ironia, tem muita piada, ai tem tem!Promete-me que não aceitas fazer stand up comedy, nem escrever para o público!:D

Miguel de Terceleiros disse...

Cada macaco no seu galho mas convenhamos que é sempre divertido ler um Inimigo Público, mesmo que tire leitores aos nossos blogs!
Abraço

Anónimo disse...

Olá!!
Sobre isto tinha mesmo que dizer qq coisa... E não é que eu concordo mesmo ctg!!!?
Suspeito que, como eu, também aches que o "Público" não é o mesmo que foi, em tempos.
Se for esse o caso,acho que deves saber que não estamos sozinhos... :) (sentiste a tensão dramática deste fim?... é a rebelião que prevejo, e tu podes fazer parte dela *)

* vem isto a propósito daquela minha tarefa de pensar numa "profissão" que tenha a tua cara :)

Pronto, já me calo...
Beijinhos,
Ana

Anónimo disse...

Clap! Clap! Clap!
;)

O Puto disse...

É uma das ideias mais inovadores da imprensa portuguesa. Inteligência, ironia e imaginação são os ingredientes principais que me deliciam todas as sextas feiras. Para mim, o Público é um suplemento do Inimigo Público.
Não é verdade, mas bem poderia ser.